Ela

Ela é discreta quando quer ser. Quase não dá para notar ela ali no canto, isolada. Mas presente, ela faz questão de sempre estar presente.
Não é nem feia nem bonita, é comum e opaca, ordinária.
Tu pensa nela as vezes, tu a procura com os olhos só para certificar-se de que ela está lá ainda e quando a encontra ela sorri, acena talvez, de longe.
Tu não lembra de alguma parte da tua vida em que ela não estivesse por perto e isso é tão estranho! E se tu pensar muito sobre o assunto ela parece aproximar-se, ganhar nitidez, uma confiança tímida, parece um pouco bonita até.
Ela é só romances do século XVII, sempre obscura, de final trágico, ela gosta das rosas e dos espinhos, arautos da morte do amor.
Depois há qualquer coisa que te distrai e ela se afasta. Se tu usa drogas, ela mantém-se longe também, mas não tira os olhos de ti.
Quase uma dança, um flerte eterno.
Deixa eu te dizer.... As vezes não há distração, não há drogas nem todos aqueles teus amigos ao redor que façam ela ficar ao largo! Quando tu percebe está junto de ti, enrolada como um polvo em todo teu corpo. Tu não tem tmais ânimo, não tem mais fé. Tenta acordar e andar e fazer tudo com ela assim presa a ti mas é difícil e confuso.
Quanta paixão. Um tentáculo a lhe apertar o cérebro e o outro o coração. Estes parecem sempre prestes a estourar como uvas.
Hoje escrevo e ela está aqui, junto de mim. Imagino que nao tenhas ciúmes, há muitas delas pelo mundo. Se ela tivesse um corpo o rosto estaria tão colado ao meu que os cílios me fariam cócegas na bochecha. Está enrolada. As vezes ela me diz que é tão simples a solução... Viver cansa.
Eu desejo que ela se vá. Eu repito e repito, à espera que me ouça: não te quero, Depressão. 

Comentários

  1. Quer ajuda?
    Posso dar uma forcinha pra deixar ela longe, só olhando de novo.

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